“Alguém ainda questiona polarização no Brasil?”. Foi com essa pergunta que o cientista político Felipe Nunes deu início à sua apresentação durante o 1º Encontro Goiano de Comunicação no Setor Público, promovido nesta quinta-feira (25/set) pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) em parceria com a Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública) e Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO). Segundo Nunes, “a polarização que começou sendo eleitoral e depois virou política, agora é afetiva. Ou seja, a gente olha para o outro como inimigo, e não mais como alguém que eu tolero”.
E para quem pensa que a tendência é de redução da polarização, o cientista político apresentou dados que mostram um outro cenário: desde 2021 tem crescido a porcentagem de pessoas que respondem sim a perguntas como Você reprovaria casamento do filho com alguém que votou diferente? ou, ainda, Você vai deixar de ouvir música de artista que apoiou adversário?. “Isso reforça a tese de que a polarização está se calcificando. Estamos cada vez mais senhores da nossa opinião e é cada vez mais difícil sermos convencidos”, destacou.
O cenário é de polarização, mas não apenas. Junta-se a isso, segundo Felipe Nunes, a desinformação (“vivemos a era do viés da confirmação, ou seja, a gente procura a informação que confirma aquilo em que acreditamos”), o desconhecimento (no livro “O Brasil no espelho”, que será lançado em outubro, Felipe Nunes mostra que 42% dos brasileiros não conhecem a situação de diferentes aspectos da realidade do país, como taxas de homicídio e desemprego), e a desconfiança (uma pesquisa recente mostrou que os maiores índices de confiança social estão depositados em instituições religiosas e policiais). “O brasileiro confia na fé e na força, não na democracia. E países com alto grau de desconfiança não conseguem se desenvolver democraticamente e nem economicamente”, afirmou.
E, afinal, quais são os caminhos possíveis, já que é em meio a esse cenário que os comunicadores públicos atuam? Para Felipe Nunes, isso passa pela educação (“quanto maior o nível de instrução, menor a ilusão do conhecimento daquela pessoa, ou seja, menos certezas de estar certa ela tem”), pela comunicação profissional (“quem não consome notícias ou se informa só pelas redes sociais é muito mais iludido em termos de conhecimento”) e baseada no respeito aos diferentes segmentos e identidades brasileiras, e, por fim, pela família enquanto espaço de promoção do diálogo e diminuição de conflitos, já que 55% dos brasileiros, segundo Nunes, dizem conversar sobre política com seus familiares. “Defendo a tese de que a polarização cresceu porque a gente desistiu da família. Para construir redes, precisamos usar a confiança do brasileiro na família”, concluiu.
Diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria e professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), Felipe Nunes é doutor em ciência política e mestre em estatística pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Coautor do livro “Biografia do abismo”, lançado em 2023 e um dos semifinalistas do prêmio Jabuti 2024 na categoria não-ficção, Nunes é reconhecido nacional e internacionalmente por seus estudos e pesquisas sobre polarização política, desinformação e eleições.
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Texto: Gabriella Gouvêa; Fotos: Kazuo e Weverton Soares.